Pessoas que têm na relação com a palavra sua fonte de criação e ação artística. Este é o critério escolhido para selecionar os convidados da edição especial do projeto Macrofonia!, que, depois de 25 edições presenciais e uma online, no ano passado, se reinventa como Festival digital, assumindo a linguagem do audiovisual e da internet, principais meios de comunicação na pandemia. Com 18 performances gravadas na Biblioteca Mário de Andrade (SP), e quatro curtas, de artistas de várias regiões do Brasil, a proposta é estimular trabalhos que relacionem a palavra com os diversos segmentos como música, arte sonora, performance e artes visuais.
Os artistas selecionados são: Renato Negrão (MG), Marília Garcia (RJ), Siba + Lello Bezerra (PE), Aline Motta (RJ), Barulhista + Michelle Barreto (MG), Jeanne Callegari (MG), Natasha Felix (SP), Rodrigo Lobo Damasceno (BA), Gal Freire (MA/PR), André Capilé + BBHT (RJ), Maria Dolores Rodriguez (BA), Allan Jonnes (SE), Ian Uviedo (SP), Maré de Matos (MG), Bianca Gonçalves (SP), Jamille Anahatta (AM), Felipe Marinho (SP), Marcelo Ariel (SP); e Lucas Litrento (AL), Susy Freitas (AM), Pedro Bomba (SE) e Maíra Mendes Galvão (DF).
“Não é um sarau, mas um projeto de pesquisa continuada em curadoria e performances de poesia sempre interligadas à dimensões sonoras e projeção visual. É a união da palavra, do som e da imagem”, explica a idealizadora Jeanne Callegari, que também integra a programação com seu trabalho autoral.
As primeiras apresentações aconteceram em 2017, em São Paulo, e já passaram por locais como Sesc Pinheiros, Sesc Vila Mariana, Biblioteca Mário de Andrade, Cinemateca Brasileira, Centro Cultural Casa da Luz, Matilha Cultural e, fora da capital paulista, no barco da FLIPEI, em Paraty, durante a FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty). As performances são sempre acompanhadas de projeções ao vivo, também chamadas de live cinema, feitas pelo artista visual Guilherme Pinkalsky, que segue na programação para o formato digital.
“Seja na literatura, na dança, no teatro ou na música, há hoje na arte brasileira uma efervescência intermídia, um impulso de unir e friccionar diversas áreas e meios, tendo a performance como eixo interdisciplinar de ação. Entendendo a poesia como uma atividade expandida, sem suporte fixo, e que a investigação de mídias e suportes é uma vocação da arte da palavra, Macrofonia! dialoga de forma propositiva com esse contexto, atualizando o que se pode chamar de ‘tradição experimental’ da poesia brasileira: suas relações inventivas com a oralidade traduzidas no ambiente tecnológico digital/eletrônico”, reflete Jeanne.
O festival começa em novembro, com lançamento semanal no Instagram de quatro curtas, vídeos realizados por poetas e artistas convidados e pensados especialmente para as redes sociais. Os vídeos devem ser lançados nos dias 9, 16, 23 e 30 de novembro. Já em dezembro, serão realizadas as exibições das 18 performances audiovisuais gravadas previamente, sem público, na Biblioteca Mário de Andrade.
“A ideia é ir além do registro das apresentações e utilizar as potencialidades do formato vídeo para realizar mesmo uma peça audiovisual”, diz Iago Mati, cineasta convidado para dirigir os vídeos das performances na Biblioteca. As primeiras exibições estão marcadas para o dia 07 de dezembro, com as gravações realizadas em diversos espaços da Biblioteca, como o salão principal – a Sala Tula Pilar Ferreira, que já recebeu o evento anteriormente.
“Ao fornecer um espaço para apresentações de poesia em diálogo com outras artes, o evento responde a uma demanda dos artistas deste setor, e ajuda a desmistificar a literatura, ampliando sua noção para além dos livros e permitindo assim mais pontos de contato e portas de entrada para possíveis leitores e interessados na arte da palavra”, completa Jeanne. Tanto nos curtas quanto nas performances filmadas na biblioteca, a opção foi por investigar novas maneiras de unir palavra, som e imagem, sem tentar imitar um evento ao vivo, mas usando o suporte de vídeos e performances pré-gravados para realizar a proposta que está no cerne do Macrofonia!, de instigar um ambiente de experimentação e investigação da palavra em diálogo com outros suportes.
Além da proposição com a linguagem, o projeto traça um panorama da poesia contemporânea, reunindo num mesmo evento o que tem sido produzido no sudeste, nordeste, sul, centro-oeste e norte do país. Para a seleção de nomes, foi feita uma curadoria coletiva, com a participação de artistas convidados, que contou, além de Jeanne, com a artista visual e cineasta Aline Motta, o músico e escritor Barulhista, a poeta e performer Natasha Felix, a poeta e pesquisadora Maíra Mendes Galvão e o poeta e ensaísta Rodrigo Lobo Damasceno, que também participam do projeto com seus próprios trabalhos.
A curadoria levou em conta a criatividade, inovação e relevância dos trabalhos, e a diversidade dos participantes. Até hoje, já se apresentaram no evento cerca de 120 artistas, com um público de cerca de 1040 pessoas no formato presencial, e mais centenas de visualizações na edição online.
Em 2020, o Macrofonia! foi contemplado com o ProAC – Ações de Incentivo à Leitura no estado de São Paulo, que permitiu a realização dessa temporada.